OPINIÃO Por Márcio Melo
O povo é o poder. Eis o que grita o Estado Democrático de Direito. Mas como o povo desempenha esse poder? Todo regime democrático é estabelecido sob a égide do sufrágio universal, o voto: livre, participativo e consciente.
Isso todos sabemos, não há nenhuma novidade, ou como dizia Shakespeare, “não há nada de novo sob o céu”.
Mas como desempenhar esse poder se o povo não tem a consciência de participação? Como dizer que elegemos nossos representantes, se o que temos sempre é uma minoria que não vota por trocas de favores ou sinecuras?
Uma Democracia antes de existir precisa de Educação. Pois só com um povo conhecedor de seus direitos, de sua história, de sua cultura e com uma consciência crítica será capaz de exercer esse poder. Assim, podemos dizer que conhecimento é poder, e que Democracia é participação. Várias opiniões para que então se escolha a que tem mais clamor. É fazer valer a vontade da maioria e respeitar as garantias das minorias.
Todavia, na atual conjuntura, que educação temos?
Sou professor e escolhi ser, por acreditar no ser humano e que ninguém sozinho é capaz de algo, mas com um grande grupo e com grandes ideias é possível mudar o mundo. Que me desculpem os realistas (e Vinícius), mas marxista como sou, idealismo é fundamental.
Nossos governantes não se importam com a educação. Para eles, ela pode ser uma ameaça. Um povo “educado” é muito perigoso, uma vez que cobra mais e é mais difícil de enganar.
Além disso, uma campanha eleitoral custa muito caro, então, precisa-se de empresários para o seu custeio. E os empresários precisam de mão-de-obra barata para terem um maior lucro.
Assim, temos a equação: mandato + dinheiro = povo – educação.
Os políticos para ganhar suas eleições vendem-se a empresários. Vencendo, passam todo o seu mandato pagando essa dívida, sem investir em educação (e em outras áreas) para que o povo seja o menos consciente possível e que venda seu voto por qualquer pequena quantia.
Porém, educação vale voto, é bonito prometer. Então eles enchem as escolas de computadores e laboratórios, para dizer que são equipadas, mas sem capacitar os professores. Impõe aos docentes a aprovação automática, para que as estatísticas informem que a aprovação é grande, e que por isso, pode-se dizer que é boa a educação. Prometem a inclusão, mas não habilitam o professor a trabalhar com alunos especiais, pelo contrário, lotam as salas de alunos e exigem do professor resultados milagrosos, sem que ele tenha tempo para planejar, salário para ter como comprar livros, participar de palestra ou viajar para congressos.
Ou seja, planeja-se uma educação ineficiente, que não dê certo. Formando uma classe de desempregados, sem nenhuma qualificação, para que sirva como mão-de-obra barata para seus apaniguados e que continuem a votar como seus pais, sem consciência ou vontade de mudança.
Cristóvão Buarque foi muito feliz ao dizer que a Educação Pública só realmente cumprirá seu papel quando os “filhos de rico” estudarem nela. Afinal, a verdadeira razão de se existir escolas particulares é uma só: A Escola Pública é feita para não dá certo.
É importante ainda ressaltar que nesse processo de alienação, o professor também é vítima. Abarrotado de trabalho, tendo que trabalhar em três turnos e até em finais de semana, vivendo uma vida de muito trabalho e de recuados recursos, ele acaba esquecendo seu valor. Não tendo consciência de que a transformação social passa por suas mãos e que a participação política ele pode e deve construir. O professor é o arquiteto do futuro cidadão, dotado de conhecimento, consciência e participação.
Por Marcio Melo (professor da rede municipal em Teresina, especialista em Estudos Literários e acadêmico do Curso de Direito na UESPI)
3 Comentários
Caro Márcio Melo,
Conforme nos ensina a história, governantes, mesmo bem intencionados, frequentemente não deram atenção suficiente aos problemas daqueles privados de seus direitos. Os políticos facilmente estudam os problemas de seus possíveis eleitores e, quando eleitos são omissos às suas reivindicações. Como exemplo, temos as últimas gestões em José de Freitas.
Embora a ampliação e construção de escolas tenham sido metas de sucessivos governos no nosso país, e, embora tenha havido progresso, as estatísticas ainda nos falam de milhões de analfabetos. Márcio, não é tijolo que educa. Escolas podem ser reformadas e ampliadas, quadras poliesportivas construídas, computadores de última geração instalados, e ainda assim, a qualidade de ensino continua sofrível porque a chave para a boa educação está no professor, como você. O número de universitários que escolhem o magistério como primeira opção de carreira é muito baixo, mesmo assim muitos usam as licenciaturas e a pedagogia como meras portas de entrada para o nível superior, haja vista serem cursos pouco disputados ou de concorrência de nível mais baixo. A lição é simples: o caminho está em selecionar os professores com maior potencial, valorizá-los e, assim, extrair o máximo deles. Não tenho nenhuma formação acadêmica, mas nesse debate entendo que o maior problema do corpo docente não é o despreparo da categoria e sim a desvalorização do profissional por parte das esferas administrativas. Daí a eclosão de greves e manifestações afins. Infelizmente nossos governantes sempre fizeram uma opção míope pela quantidade em lugar da qualidade. A valorização do professor é instrumento essencial para a melhoria da qualidade da educação. É preciso resgatar a autoridade do professor, inseri-lo num processo de desenvolvimento contínuo, motivar os educadores a trabalharem por metas e ensiná-los a inspirar os educandos. Infelizmente existem muitas universidades de fundo de quintal, que vendem diplomas a baciada, em suaves prestações mensais. Neste contexto, ensino vira negócio e, aluno vira cliente. Alunos de professores ruins aprendem mal, aprendem menos e reproduzem o círculo vicioso que já conhecemos. Márcio, a lógica do regime manda que o voto seja estendido ao analfabeto, acho justa essa prática porque o ato de confiança de escolha de seus representantes políticos não é um teste intelectual, um concurso de sabedoria, resulta da experiência de vida. Não posso compreender como um chefe de família, que tem discernimento para sustentar a sua família, sendo analfabeto, não possa escolher seu vereador, seu deputado, seu prefeito. A verdade é que não é de modo algum necessário para o eleitor votar bem para exercer seu direito cívico de votar, basta que ele tenha confiaça política num líder local. É justo que ele acompanhe a orientação desse líder. José de Freitas está passando por transformações ideológicas com o surgimento de uma nova safra de possíveis candidatos a variados cargos na próxima legislatura. Ganha o povo com a opção dos inadiáveis.
A educação é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve a condição humana, com todos os seus poderes funcionando com harmonia e completa, em relação à natureza e à sociedade. Além do mais, era o mesmo processo pelo qual a humanidade, como um todo, se elevando do plano animal e continuaria a se desenvolver até sua condição atual. Implica tanto a evolução individual quanto a universal.
Partindo dessa citação feita por Friedrich Froebel, um grande professor que fundou escolas pedagógicas, a questão em si é: O texto do professor márcio melo coloca sem entrelinhas e sem arrodeios traz a verdadeira situação não só da cidade freitense mais de vários outros lugares por que nao citar o nosso pais em grande parte, sem investimentos na educação o pais jamais irá pra frente e o que teremos serão sempre politicos eleitos atraves de votos de pessoas que pouco conhecimento tem, que votam por conselho de outras pessoas que se aproveitam dessa situação. Assim sem apoio aos educadores e investimentos na educação jamais alunos de escolas públicas conseguiram competir em concursos e outras provas com os demais de escolas particulares, afinal sao pouquissimos que se destacam faço minhas as palavras de Critovão Buarque no texto do professor Márcio pois só assim realmente veremos que a educação pública estará num bom caminho.
Caros Leitores, gostaria apenas de ressaltar que em nenhum momento quis com esse texto dizer que formação acadêmica é requisito para um voto consciente. Concordo com o leitor Armando Alves, pois um analfabeto tendo pragmática é claro que votará da melhor forma. Outrossim, o que verdadeiramente quis destacar foi que os melhores cargos são ocupados por quem recebeu uma formação escolar clássica e que na conjuntura escolar pública que temos, não é dado ao alunado carente a paridade das armas para disputar por esses cargos. O que ela realmente faz é dispor esses alunos a serem servos de quem teve uma educação privada elitista. Um grande abraço.